O "fragmento" da juventude - Crítica de Benedito Nunes


Integrantes do grupo: Giovana Toloto Müller - RA: D890395

                                    Lucas de Souza Silva - RA: F008517

1.    INTRODUÇÃO

O espaço universitário é caracterizado como um espaço letrado que exige pessoas proficientes na leitura, na interpretação e na produção textual, portanto, é necessário ofertar ao longo das aulas, um ensino de leitura e escrita para desenvolver essa habilidade nos estudantes e para que atenda à demanda exigida pelo próprio meio. Essas habilidades precisam ser aprendidas corretamente, pois “para escrever é preciso ter um acervo de recursos e ter o que dizer sobre o assunto. Para ler, é preciso ter um acervo de recursos que permita compreender o texto” (LIMA, 2002, p.15). E para isso, será tratado nesse trabalho, o capítulo “O “fragmento” da juventude”, crítica escrita por Benedito Nunes do livro chamado “Leitura de poesia” de Alfredo Bosi.

2.    DESENVOLVIMENTO

2.1.       Mário Faustino

Mário Faustino dos Santos e Silva nasceu em 22 de outubro 1930 em Teresina, Piauí. Foi poeta, jornalista, crítico literário e tradutor. Realizou a maior parte de seus estudos em Belém, se tornando redator e cronista de “A Província do Pará” de 1947 a 1949, e em seguida de “A Folha do Norte” de 1949 a 1956.

Atuou em diferentes ramos da cultura brasileira, dedicando se a um estudo metódico da poesia que defendia a revolução da arte literária em favor do progresso da língua e de novas formas estéticas. O poeta procura, através das palavras, ensinar, comover, satisfazer, além de desempenhar um papel crítico, pelo fato de conciliar o poder verbal de percepção e expressão com o universo das coisas, de ideias e seres, ou seja, unir a vida e a poesia.

Sua principal obra foi “O Homem a sua Hora” de 1955 e  também um projeto não concluído de um poema longo, composto por “fragmentos” que são altamente elaborados e integráveis, em que em um primeiro momento, o autor escreve versos ocasionais de acordo com as circunstâncias do momento de sua vida e depois, em um segundo momento, ele os reconstrói, estruturando-os, sendo um projeto biográfico artístico e no caso desse trabalho, será explorado a crítica de Benedito Nunes sobre o fragmento denominado “Juventude”.

 

2.2.       O “fragmento” da juventude- Crítica de Benedito Nunes

(Juventude)

...

Juventude —

a jusante a maré entrega tudo —

 

 maravilha do vento soprando sobre a maravilha

 de estar vivo e capaz de sentir

 maravilhas no vento — 

amar a ilha, amar o vento, amar o sopro, o rastro —

maravilha de estar ensimesmado

(a maravilha: vivo!),

tragado pelo vento, assinalado

nos pélagos do vento, recomposto

nos pósteros do tempo, assassinado

na pletora do vento —

maravilha de ser capaz,

maravilha de estar a postos,

maravilha de em paz sentir

maravilhas no vento

e apascentar o vento,

encapelado vento —

amar à vista da ilha,

eternidade à vista

do tempo —

o tempo: sempre o sopro

 etéreo sobre os pagos, sobre as régias do vento,

do montuoso vento —

e a terna idade amarga — juventude —

êxtase ao vivo, ergue-se o vento lívido,

vento salgado, paz de sentinela

maravilhada à vista

de si mesma nas algas

do tumultuoso vento,

de seus restos na mágoa

do tumulário tempo,

de seu pranto nas águas do mar justo —

maravilha de estar assimilado

pelo vento repleto

e pelo mar completo — juventude —

a montante a maré apaga tudo —

...

O “fragmento” de Mário Faustino pertence ao seu projeto não concluído, na qual, é uma série de poemas curtos como já dito anteriormente. Percebe-se que eles estavam em progresso, pelo fato de, no início e no final se tem a presença de pontos de suspensão (...) estando, ao longo do tempo, incompletas de acordo com as suas experiências de vida durante os anos, pois, ele procurava unir a vida e a poesia.

     O autor escreve os poemas inicialmente de maneira natural, ocasional e depois ao longo do tempo, ele os reconstrói, estruturando-os.

Benedito Nunes diz que o encantamento que o “pequeno poema lírico” gera no leitor, vem através da sua musicalidade nos versos como a assonância (nos trechos: estar/amar, vento/tempo, apascentar/mar, mágoa/água, repleto/completo) e a aliteração (nos trechos: juventude/jusante, pélagos/pósteros/postos, eternidade/etéreo, tumultuoso/tumulário), dando uma linha de entonação, atribuindo, de acordo com Benedito, um ritmo ondulatório, gerando no poema uma linguagem lírica.

Ao longo do poema, encontram-se travessões, na qual, se tem a sintaxe discursiva sendo interrompida pela a sintaxe rítmica, gerando de acordo com o crítico, a continuidade na descontinuidade, ou seja, a continuidade do ritmo e de imagens e a descontinuidade das enunciações.

A juventude no poema é expressada como confronto entre o amor e a morte, o tempo e a eternidade, sendo objeto de admiração, porém, é só na segundo estrofe que o autor enaltece o sentimento de viver louvando-o.

 Juventude —

a jusante a maré entrega tudo —

 

 maravilha do vento soprando sobre a maravilha

 de estar vivo e capaz de sentir

 maravilhas no vento — 

amar a ilha, amar o vento, amar o sopro, o rastro —

maravilha de estar ensimesmado

(a maravilha: vivo!),

[...]

Outra característica que se nota no “fragmento” é que tanto a palavra “maravilha” quando a palavra “amar” são anagramas, ou seja, um jogo de palavras que utiliza a transposição ou o rearranjo de letras de uma palavra para formar outra com ou sem sentido e nesse caso, “maravilha” e “amar” são anagramas de “mar”, gerando o encontro eufônico que é percebido quando lido em voz alta, repetindo-se as imagens do mar, da ilha e do vento que são sinais associados com um poema.

Em seu penúltimo ato, se expressa o luto pela juventude e no último ato o momento da ruína e da morte e percebe-se no “fragmento” o entrosamento de duas imagens contrárias, a concordância de opostos, na qual, louva o sentimento arrebatador de viver e a exaltação e o lamento da morte. 

[...]

 maravilha de estar assimilado (penúltimo ato)

pelo vento repleto

e pelo mar completo — juventude —

a montante a maré apaga tudo — (último ato)

...

3.    Atividades propostas

1- Com base no fragmento do poema de Mário Faustino leia e assinale a alternativa, composta por verdade e falso, correta.

[...]

maravilha do vento soprando sobre a maravilha

de estar vivo e capaz de sentir

maravilhas no vento — 

amar a ilha, amar o vento, amar o sopro, o rastro —

maravilha de estar ensimesmado

(a maravilha: vivo!)

[...]

(   ) As palavras “AMAR e ESTAR” traz a figura de linguagem de som  chamada assonância.

(   ) “maravilha de estar ensimesmado” enaltece o sentimento de viver do autor.

(   ) Este fragmento do poema traz a forma de que o autor vive, sempre unindo vida e poesia.

(   ) As palavras “AMAR e ESTAR” traz a figura de linguagem de som  chamada aliteração.

A) V, F, F, F.

B) F, F, V, F.

C) V, F, V, F.

D) F, V, V, F.

E)F, F, V, V.

2- Leia este pequeno trecho do poema “’juventude” e assinale a alternativa incorreta.

[...]

maravilha de estar assimilado

pelo vento repleto

e pelo mar completo — juventude —

a montante a maré apaga tudo —

...

A) No penúltimo ato Mario Faustino expressa seu gratidão diante da juventude, e no último ele traz a ruína e a morte.

B) Existe um entrosamento de duas imagens contrarias, louvando o sentimento arrebatador de viver e o lamento da morte.

C) Mario Faustino traz um sentimento forte a este fragmento, sendo ele o luto.

D) O penúltimo ato no fragmento lido trata-se do luto diante da juventude, e no ultimo, a ruina e a morte.

3- Leia o trecho tirado do fragmento “juventude” de Mario Faustino e responda:

[...]

de si mesma nas algas

do tumultuoso vento,

de seus restos na mágoa

do tumulário tempo,

de seu pranto nas águas do mar justo —

[...]

Neste trecho temos um exemplo de aliteração, assinale a alternativa que corresponda a essa figura de linguagem.

A) Si e Seus.

B) Algas e mágoa.

C)Tumultuoso e tumulário.

D) Algas e águas.

E) Vento e tempo.

4- De acordo com as críticas de Benedito Nunes assinale a alternativa correta.

I) Pertence ao seu projeto concluído em 1956.

II) Os poemas do projeto não estão em progresso, mas são incompletas.

III) De acordo com o crítico, o encantamento é dado pela musicalidade do “fragmento”, como as assonâncias e as aliterações;

IV) Com esses elementos musicais presentes no poema, Benedito diz que gera uma linha de entonação, um ritmo ondulatório, dando uma linguagem lírica ao “fragmento”;

A) I, II e IV estão corretas.

B) I e III estão corretas.

C) Todas as alternativas estão incorretas.

D) III, IV estão corretas.

E) Todas as alternativas estão corretas.

5- Leia o trecho tirado do fragmento “juventude” de Mario Faustino e responda:

[...]

tragado pelo vento, assinalado

nos pélagos do vento, recomposto

nos pósteros do tempo, assassinado

na pletora do vento —

[...]

Neste trecho temos um exemplo de assonância, assinale a alternativa que contenha  as palavras que corresponde a essa figura de linguagem.

A)  Assinalado e assassinado.

B) Vento e tempo.

C) Pélagos e pósteros.

D) Pélagos e pletora.

E) Vento e vento.

3.1.       Gabarito das atividades propostas

1- C) V, F, V, F.

2- D) O penúltimo ato no fragmento lido trata-se do luto diante da juventude, e no ultimo, a ruina e a morte.

3- C) Tumultuoso e tumulário.

4- D) III, IV estão corretas.

5- B) Vento e tempo.

4.    Conclusão

Pelo fato dos textos universitários serem mais complexos do que os textos trabalhados em sala de aula de ensino básico, os alunos devem ser ensinados a compreendê-los através da prática em sala de aula, explorando autores como Alfredo Bosi para que sejam proficientes em sua profissão.

Embora o texto trabalhado seja denso, utilizamos uma linguagem simples para explicá-lo, centrando nos aspectos importantes da crítica, além de no final da explicação, propor algumas atividades de fixação em relação ao estilo da poesia de Mário Faustino e sobre os pontos esclarecidos de Benedito Nunes.

E por fim, postamos no blog de nossa sala para que haja uma comunicação entre o público nos comentários, tornando esse conhecimento mais abrangente dentro da mídia.

BLOG:  letras-licenciatura.blogspot.com

5.    Referências bibliográficas

MÁRIO Faustino. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa2844/mario-faustino>. Acesso em: 23 de Mai. 2021

BOSI, Alfredo. Leitura de poesia. Editora Ática, São Paulo, 1996.

Comentários